Ao recuar em 0303, Anatel deixa consumidor mais exposto às ligações abusivas

A revogação da obrigatoriedade do prefixo 0303 pela Anatel deixa evidente a fragilidade da regulação no Brasil diante da pressão organizada de grupos de empresas do ramo que fazem ligações em larga escala.

Ao recuar em 0303, Anatel deixa consumidor mais exposto às ligações abusivas

O prefixo 0303 foi criado para, em tese, dar ao consumidor um mecanismo de defesa contra ligações indesejadas. Bastava identificar o prefixo para decidir não atender. Porém, o que parecia uma vitória para o usuário/consumidor, se transformou em um pesadelo para empresas, instituições filantrópicas e prestadores de serviços que dependem do contato telefônico em larga escala. Não demorou mito para que as entidades bem articuladas pressionassem a agência (Anatel) para derrubar a regra.

A Associação Brasileira de Procons (ProconsBrasil) criticou a decisão da Anatel. Responsável por integrar e estabelecer políticas e normas para a atuação dos Procons estaduais e municipais de todo o país, promovendo a defesa dos direitos dos consumidores, a entidade acusou a agência reguladora de favorecer algumas poucas empresas e organizações em detrimento da população.

No lugar da transparência oferecida ao consumidor, a Anatel aposta agora em sistemas de autenticação de chamadas. Esses mecanismos podem ter eficácia no combate a fraudes sofisticadas como o spoofing, porém, pouco ajudam no cotidiano do cidadão comum. O usuário perde clareza imediata sobre quem o chama e volta à posição de vulnerabilidade diante de telemarketings e ligações abusivas, gerendo em muitos casos, mais de 50 ligações diárias para alguns consumidores.

O caso do 0303 é um lembrete de como decisões aparentemente técnicas carregam implicações políticas. A regulação deveria proteger primeiro o cidadão, contudo na prática, se moveu em direção contrária. O consumidor perde informação, perde autonomia e volta a ser refém de um sistema em que sua paz cotidiana tem menos peso do que a voz organizada de quem lucra com a insistência de ligações que aos poucos, pode se tornar um problema de saúde mental à população.